Sou só o cara deitado na calçada tomando chuva, pra sempre...

Era ele! Quero dizer, não David Bowie,
não um fã com camiseta do Ziggy Stardust.
Não. Infelizmente não.
Infelizmente a cena que eu tive que presenciar foi a seguinte: vestido, dos pés a cabeça, com roupas esquizofrênicas da década de setenta,
meu vizinho estava com muita maquiagem na cara,
com a maquiagem do Ziggy Stardust.
Agora, me responda. O que você faz quando isso acontece?
Bom, eu ri.

Ri, não, eu comecei a soltar gargalhadas muito altas, muito, muito altas.
E logo, várias pessoas queriam ver o que estava acontecendo.
E todas elas, riam.
E ele nem ligava.
E eu não tive coragem de entrar naquele elevador. Deixei a porta se fechar, e ri.
E os dias se passaram, e a música parou de tocar.
Aparentemente, meu vizinho havia se mudado.
Paz e sossego, eu poderia acordar às oito. Aparentemente.
Aparentemente era tudo o que precisava, tranqüilidade.
Mas agora, já não dava.
Agora, eu acordava, todo dia, às sete. Não adiantava querer dormir mais.

Não adiantava dormir a hora que fosse.
E acordava inquieto, procurando algo, que faltava.
Então, tive que comprar o maldito disco.
E os dias foram passando, as semanas foram passando, e,
um dia, quando desci no térreo, abriram a porta do elevador,
e ouvi risadas.

Gargalhadas. Cada vez mais altas, e mais pessoas iam chegando.
Mas tudo bem, agora eu já estou me acostumando.





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