Sou só o cara deitado na calçada tomando chuva, pra sempre...
O malandro era muito rápido,
e ninguém viu quando pulou da janela.
E seu sangue era vermelho, ninguém gostava dele.
Á noite choveu, e ninguém viu seu enterro.

O malandro abandonou a vida.
E o malandro era cuidadoso; não foi sem querer,
nem por distração, que o malandro se matou.

O malandro sempre sabia o que estava fazendo;
afinal, não era malandro por acaso.

Uma vez, eu me lembro, uma freira sentia pena do malandro.
Ajudava-o. Seduziu-a. Largou o convento por ele.
Ele a abandonou.
A freira, que já não era mais freira,
abandonou a vida; mas o fez pelo malandro.
Uma vez o malandro acabou com um centenário banco.
Deixou todos de tanga.
Um dos gerentes, num momento de desespero,
também abandonou a vida.

O malandro ouvia essas histórias e sorria.
Talvez por isso ninguém gostava dele.

O malandro era malandro porquê queria.
Tinha saúde, tinha juventude, tinha até mesmo dinheiro
Mas era malandro, o malandro. Ao ponto de a própria mãe ter medo.
Dizem que o malandro esses dias baixou num terreiro. Dizem que dizendo ser São Pedro.
Talvez um dia esse malandro tome jeito. Pro céu ele não vai. E o diabo não o quer no inferno.
Talvez um dia ele se canse da sua própria solidão.

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